A dificuldade em definir peremptoriamente a História oral deve-se ao fato dela não pertencer a um domínio estrito de conhecimento. A sua especificidade, ao contrário, é, justamente, a capacidade de prestar-se a diversas abordagens – Antropologia, Sociologia, História e demais Ciências Humanas - e mover-se em um terreno multidisciplinar. Apesar de seu caráter evasivo, há, não obstante, um consenso geral que a define como uma metodologia de pesquisa que produz a sua própria fonte, a partir de entrevistas gravadas com pessoas que participaram ou testemunharam certos acontecimentos, conjunturas, modos de vida, instituições, visões de mundo e outros aspectos da vida – objetiva e subjetiva - que não costumam ser contemplados ou profundamente escrutinados pela documentação escrita. Os depoimentos orais constituem-se, potencialmente, em fontes informativas e/ou instrumentos de compreensão ampla do significado da ação humana.
A democratização dos atores intitulados protagonistas da história promovida pela História oral, ao valorizar todos os indivíduos, de forma indiscriminada, como depoentes fidedignos, outorgando-lhes o direito de construção de sua versão/sentido da experiência a partir de seus próprios termos é, sem dúvida, o mais contundente argumento que referenda a importância e caráter transgressivo do método. Mas, há também fatores de natureza técnica e metodológica, como o fato de introduzir o pesquisador na construção da versão, permitindo constante avaliação do documento ainda durante sua constituição e ser um arquivo intencional de documentos históricos.
A metodologia de história oral estabelece e ordena procedimentos de trabalho (pesquisa, elaboração de roteiro, produção do depoimento, apontamentos da experiência de campo, transcrição do depoimento, restituição do depoimento ao entrevistado para eventual correção/modificação e produção de um material interpretativo sobre a coleção - livro, exposição, DVD, CD) e, paralelamente, suscita questões engendradas a partir da escuta sensível dos relatos, a serem interpretadas pela teoria da História e demais áreas de conhecimento afins. Funcionando como um espaço intersticial entre a prática e a teoria, a lenta e gradual incorporação da história oral pelo campo historiográfico ampliou, de forma expressiva, o escopo de “objetos” a serem investigados e interpretados. O próprio funcionamento da memória com suas suscetibilidades, contingências e nuances ganhou, com a metodologia, um novo olhar e novas perspectivas de tratamento e análise.